MOÇAMBIQUE COM CHEIRO
Quem
nasceu em Moçambique e saiu do país, quem como estrangeiro viveu em Moçambique,
quem fez alguma experiência em Moçambique como missionário (a), voluntário (a)
ou mesmo profissional, parece que levou um novelo enorme com uma ponta que
ficou em Moçambique e outra que está amarrada ao seu coração. Não fica
satisfeito enquanto não vem à procura da ponta que ficou em Moçambique. Parece
que este fio nunca se rompe, nunca se parte.
Moçambique
tem íman, tem vida, tem cor, tem dança, tem cheiro, tem tempo, tem beleza.
Dúvidas? Se não puderem vir cá, pelo menos leiam Mia Couto ou Paulina Chiziane.
Esta
terra fascinante de 801.590 km2 com quase 24 milhões de pessoas, continua com
algumas carências ao nível da saúde, da educação e da organização, embora tenha
um governo legitimamente constituído que vai construindo as regras da
democracia. Como noutras democracias, há partidos da oposição (Renamo
acantonada na Gorongosa) e o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) sediado
na Beira.
Nesse
sentido, nós, ALVD, temos estado a apoiar e a intervir no Niassa, na Zambézia,
em Nampula.
A
área da Província do Niassa tem praticamente 130.000 km2, com uma população a
rondar os 2 milhões de pessoas, com a capital de Lichinga a albergar 145.000
pessoas.
A
grande particularidade desta província é que é a maior província de Moçambique.
Tem um bispo dehoniano. E quanto a nós, é a província mais pobre e menos
desenvolvida. Por isso, estamos a fazer um esforço para intervir com projetos
de desenvolvimento a partir dos leigos dehonianos.
A
Zambézia é uma Província com uma área de 105.000 km2, com uma população de
quatro milhões de pessoas. Tem por capital a cidade de Quelimane povoada de
grandes palmeirais. Nesta província, pontificam as comunidades religiosas dehonianas.
A primeira presença dehoniana em Moçambique começou nesta província, mais
propriamente, no Alto Molócuè em 1947.
A
Província de Nampula com uma área de 81.600 km2, é a província com mais
população, ultrapassando os 4 milhões. A primeira capital de Moçambique
situa-se nesta área, ou seja, na ilha de Moçambique. Aqui o arcebispo também é
dehoniano, D. Tomé.
A
presença dehoniana também está em Maputo (com 26.000 km2 e uma população de 1
milhão e meio de pessoas).
Isto
sem esquecer a nova presença dehoniana, na Diocese da Beira, através do
arcebispo D. Cláudio della Zuanna, ordenado a 7 de Outubro passado.
Como
sempre, e em todas as sociedades, nem tudo é perfeito…
Fui
engraxar os sapatos em Nampula que já tinham uma camada de pó acumulada durante
dez dias. Estava um jovem forte a engraxar os seus. Esperei a minha vez ali na
estrada, frente à Faculdade de Direito da UCM. Quando acabou, levantou-se e foi
embora sem mais nem menos. Perguntei ao homem que estava a engraxar: ele não
paga? É polícia. Por isso, não paga. Eu pensei talvez os protege dos ladrões. Quando
terminou de engraxar os meus, perguntei quanto é que ele deveria pagar. Começou
a rir, porque sabe que branco tem de pagar mais, porque branco é sinal de
dinheiro. Lá lhe dei o dobro do que costumam receber ou seja, 20 meticais (50
cêntimos).
Disseram
eles: Oh a vida deve ser cara em Lisboa. Nós aqui por dez meticais (20
cêntimos) comemos uma mão de xima (massa de milho cozida) e meio carapau e já é
um bom almoço. Fiquei a pensar na alimentação deles…
Também
fui ao famoso mercado que há ao domingo em Nampula. Fui com um padre
moçambicano, pároco de Namarrói. Quando eu estava perto dele, os comerciantes
pediam sempre o dobro do valor das coisas. Quando eu estava perto, a camisa custava
100 meticais. Quando eu me afastava, eles pediam só 50 meticais.
E
para acabar … chegou o rapaz da rua que vende o jornal de notícias que custa 15
meticais. Dei-lhe uma nota de cinquenta meticais (um euro). Não tinha troco.
Foi buscar o troco. Nunca mais apareceu. Três dias depois encontrei-o a vender
o jornal da véspera (porque nunca há jornal do dia) e disse sem mais para me
dar o jornal. Nem pestanejou. Ainda tenho crédito de 20 meticais. Dois dias
depois encontrei-o noutro lado e deu-me mais um jornal. Ainda ficou com 5
meticais de crédito.
Adérito
Barbosa, scj
Maputo,
Dezembro de 2012
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