segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

ALUKHU

Esta manhã, o P. Elias, o P. Ricardo, o P. Emílio Jorge e eu saímos às 7.45h da manhã e fomos confessar os cristãos de Murrupaniua aqui a 5 kms, comunidade conhecida pelos voluntários dehonianos que estiveram aqui em 2008. O carro foi por uma estrada que para mim não era mais que um pequeno leito de um rio seco. Mas conseguiu chegar até à igreja, construída pelo italiano, P. Afro. Mal chegados, vimos muita gente. Cada família a cozinhar frango, peixe, fora da igreja. O que é isto? É alukhu responderam. A palavra alukhu significa criança ou noviço.
Em África, há muito tempo que existem os chamados ritos de iniciação para os rapazes e para as raparigas, cada um em separado. Fundamentalmente, consiste em instruções, práticas e ritos para preparar os rapazes e as raparigas para a vida adulta, sempre no sentido de depois terem filhos para continuarem a descendência dos antepassados. Entre as actividades, aprendem a caçar, indo para a floresta. É um assunto que muitos não querem falar, já que entram questões sexuais (para as raparigas, a mutilação e para os rapazes a circuncisão). No entanto, hoje já há mais respeito pelas raparigas, continuando a circuncisão nos rapazes. 

É uma tradição muito enraizada no meio do povo. Praticamente, quem organiza hoje aqui é só a Igreja Católica, mas vêm muçulmanos e de outras religiões, como a religião tradicional.
Assim, depois de termos confessado, eu e o P. Elias, grande etnólogo entendido nestas coisas, entramos na barraca onde estavam os 105 adolescentes, alguns ainda crianças. Começou a circular a ideia de que estes ritos iam acabar. Então as famílias com medo, mandam os seus filhos ainda bastante crianças para estas cerimónias. Entraram para a barraca a 24 de Novembro e saem a 24 de Dezembro. O último dia é considerado um grande dia de festa. Pois todos os que fizeram esta iniciação são considerados adultos, maduros e responsáveis.
É também um negócio que mexe dinheiro pago pelos padrinhos. Este dinheiro vai para os que vêm dar conselhos, uma parte para o régulo e uma parte para quem organiza.
E às 9.00 horas da manhã estávamos a regressar, para eu poder continuar a corrigir os projectos de doutoramento em Ciências da Educação.

Adérito Gomes Barbosa
Nampula, 23 de Dezembro de 2011

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