ANIVERSÁRIO DA MORTE DA IRMÃ LÚCIA
CARMELO DE COIMBRA – 16 DE FEVEREIRO DE 2013
“Eu não vim chamar os justos, vim chamar os pecadores, para que
se arrependam”.
A celebração do aniversário da morte da Irmã Lúcia neste tempo santo
da Quaresma, transporta‐nos para a centralidade do desejo salvífico do nosso
Deus que, não quer a morte do pecador,
mas que se arrependa e viva.
Jesus, o Enviado do Pai, veio ao mundo com uma missão bem clara:
salvar o mundo, todos e cada um daqueles que o Pai criou. Nessa tarefa empenhou
a totalidade de Si mesmo, sem reservas, como testemunha a Sua disponibilidade
para beber o cálice amargo de todos os sofrimentos e a Sua entrega à morte na
cruz.
Ao sentar‐se com publicanos e pecadores à mesa, manifesta já que vem precisamente
por causa dos excluídos da sociedade que nunca são excluídos de Deus, antes são
os seus prediletos, porque são os que mais anseiam por Alguém que os salve.
Jesus não aprova o mal nem o pecado, pois vem para os aniquilar, mas
aceita e acolhe todo o ser humano escravo do mesmo mal e dominado pelo pecado
que conduz à morte. Jesus está disponível para entregar a sua pessoa por todos
os homens perdidos no pecado, por cada homem e por um só homem, segundo o
sentido da parábola da ovelha perdida. A sua paixão pela humanidade não é uma
metáfora, mas a Sua realidade mais séria, bem clara na celebração da Ceia com
os doze, na agonia do Getsémani ou no seu grito de abandono no alto da cruz.
Entrega o Corpo, aceita o cálice de dor, abre os braços na cruz porque veio
para salvar quem estava perdido.
A palavra forte que dirige a Levi, aos Apóstolos e a todos nós seus
discípulos, dá continuidade à Sua missão: Segue‐Me. Significa, em primeiro lugar, que
Ele é o nosso Mestre, com quem podemos viver na intimidade e no amor. Não pediu
algo que Ele mesmo não começasse por fazer: veio para realizar a vontade do
Pai, seguiu‐a até ao fim, em tudo agiu como Filho. Significa, depois, que nos
propõe um estilo de vida decorrente da Sua própria atitude, no sentido da imitação,
apesar das diferenças. Ensinou‐nos a submeter tudo a Outro e para bem dos
outros. O seguimento de Cristo tem um sentido e uma finalidade: estar na Sua
intimidade e sentir o Seu amor; dar a vida pelos outros, para que tenham vida
em abundância.
Entre os que seguiram Jesus nestas vertentes centrais da Sua vida,
encontram‐se os Pastorinhos de Fátima, Lúcia, Francisco e Jacinta.
Foram almas apaixonadas pelo amor a Deus, que sentiam arder no seu
peito como um fogo que não se extingue, expressão que nos aproxima da dos profetas
do Antigo Testamento. De tal modo cheios de Deus que nada mais desejavam
senão estar com Ele, tanto no silêncio da contemplação pela serra como nas suas
atividades laborais infantis ou na relação com as outras pessoas. Fizeram da sua vida um dom ao serviço da salvação dos irmãos. Esta
questão da
salvação, na linha do exemplo de Jesus e do sentido do Evangelho,
polarizou de tal modo as suas vontades que, nada mais lhes interessava ou
desejavam do que ajudar a salvar todos os homens. Assim tinham entendido o
sentido da incarnação do Verbo de Deus, a Sua morte na cruz, e aí encontravam o
sentido das aparições de Nossa Senhora – veio convidar o mundo a converter‐se
dos seus pecados e a pedir orações e sacrifícios pela conversão dos pecadores
para que sejam salvos.
É admirável a dedicação e o amor dos Pastorinhos aos pecadores, como
os prediletos de Deus. As orações contínuas e os sacrifícios sem conta
refletem essa grande afirmação da teologia segundo a qual a maior desgraça do
ser humano é a condenação eterna, é estar sem Deus sobre esta terra e continuar
longe d’Ele na eternidade, quando foi criado para viver no amor e na comunhão
com Ele.
À voz de Maria, na qual viram a voz de Deus, que os convidava a
oferecer a vida em favor dos pecadores, não houve hesitação. Aquela pergunta de Nossa
Senhora faz‐se eco da voz de Seu Filho dirigida a Levi e a todos os outros:
Segue‐Me. A resposta dos Pastorinhos, “sim queremos” equivale à atitude evangélica
de deixar tudo e seguir Jesus.
A celebração do 8º aniversário da morte da Irmã Lúcia, que ocorreu no
dia 13 de fevereiro de 2005, aqui no Carmelo de Santa Teresa, impele‐nos a
incarnar em nós os melhores sentimentos e atitudes que reconhecemos nela: o
desejo de conversão, o amor aos pecadores e o seguimento de Cristo. Nesta
trilogia se encontra, aliás, o fundamental da mensagem cristã.
A conversão, como primeira palavra de Jesus, consiste em reconhecermos
o que somos sem Deus e o que podemos ser imersos na Sua bondade e na comunhão
íntima com Ele, por meio da oração, da fé e da comunhão eclesial.
O amor aos pecadores é o amor mais universal e mais puro, porque o
amor aos mais pobres de todos os pobres, aos que nada têm a dar em troca senão
a sua pessoa.
Este foi o amor de Cristo por nós, quando estávamos perdidos e nos resgatou
com o preço do Seu sangue.
O seguimento de Cristo é o nosso caminho, valorizando a alegria de
acreditar, de ser chamado por Ele e de ter a graça de dar uma resposta de fé. Ao
mesmo tempo, manifestando o grande entusiasmo de O dar a conhecer aos outros como o
tesouro que encontrámos e pelo qual tudo deixámos ou, pelo menos, tudo
procuramos deixar.
A apresentação ao mundo das virtudes dos Beatos Francisco e Jacinta
Marto, bem como os pedidos pela beatificação da Irmã Lúcia revestem‐se de grande importância
para a Igreja de hoje, porque são uma manifestação do nosso desejo de caminhar
no mesmo sentido do seguimento de Cristo.
Havemos de continuar a pedir a Deus a abundância das suas graças por intercessão
da Irmã Lúcia, para que este longo caminho da sua subida aos altares se concretize,
se for a vontade do Senhor, em cujas mãos pomos a nossa própria vontade e os
nossos desejos enquanto comunidade de devotos.
Coimbra, 16 de fevereiro de 2013
Bispo
de Coimbra
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