sexta-feira, 7 de setembro de 2012


 
 
 
 
 
Prefácio

Ao celebrar 50 anos do início do Concílio Ecuménico Vaticano II, o Santo Padre Bento XVI convida-nos a viver um Ano da Fé. Sabemos que, para quem acredita, todos os dias, meses e anos são tempo para viver, celebrar, testemunhar e anunciar a fé que professamos. Compreendemos, porém, que o tempo que vivemos nem sempre se tem manifestado tempo fácil para darmos forma visível ao nosso testemunho de fé.
Importa, por isso, abrirmos o coração e a inteligência ao apelo do Santo Padre expresso na Carta apostólica «Porta da Fé» e tudo fazermos a nível pessoal, familiar e comunitário para vivermos intensamente este Ano da Fé, de 11 de outubro de 2012, dia aniversário do início do Concílio, a 24 de novembro de 2013, domingo de Jesus Cristo, Rei e Senhor do Universo.
Quando se comemoram cinquenta anos do início do Concílio Vaticano II recordo e revivo a alegria e o entusiasmo com que, nesse tempo, acolhemos nesse tempo e vivemos momento a momento esse grande acontecimento eclesial, nascido do coração e do sonho profético de João XXIII. Faz-nos bem regressar ao Concílio, reler os seus textos, reviver os seus dinamismos renovadores e concretizar com desassombro as suas intuições pastorais. Urge, por isso com renovado vigor, continuar o Concílio presente e atuante na Igreja para que esta seja segundo a vontade de Jesus, seu Fundador, e sob a inspiração do Espírito Santo, verdadeiro sacramento de salvação da humanidade e necessária luz dos povos.
Deste encanto sentido nos tempos conciliares guardo o fascínio aí encontrado pela Igreja de Jesus Cristo que via abrir as suas portas a um mundo imenso de gentes em procura e lhes manifestava vontade de partilhar as suas alegrias e esperanças, as suas ansiedades e inquietações. São a estas portas da fé que continuam a bater multidões de crentes e não crentes que têm direito a encontrar na Igreja a palavra e os sacramentos de uma vida em comunhão com Deus.
Lembra-nos o Santo Padre Bento XVI, na Carta apostólica sobre o Ano da Fé, que “a «Porta da Fé» (cf At 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. Atravessar aquela porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no baptismo” ( Porta Fidei, n.º 1).
Importa, assim, diz-nos o Santo Padre «redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (Porta Fidei, n.º 2).
É este caminho que o Padre Adérito Gomes Barbosa tem procurado na sua vida, na sua vocação e na sua missão e nos ajuda agora, também, a percorrer. A sua aprofundada reflexão, transportada para uma vasta produção escrita, e a sua longa experiência pastoral, particularmente dedicada à formação dos jovens, oferecem-lhe autoridade para nos propor novos caminhos à vivência e ao testemunho da fé cristã.
“Cristãos com fé” é um novo livro que agora nos coloca nas mãos, recorrendo a uma metodologia muito própria, ao jeito de um itinerário. Trata-se de um convite a seguir um percurso de reflexão e de vida, passo a passo, de etapa em etapa, momento a momento, com tempo demorado e sereno para ouvirmos a voz de Deus, entendermos os sinais dos tempos e percebermos as intuições profundas que na planície, nos átrios ou nas estradas da vida podemos encontrar e descobrir.
O autor sabe que a fé é dom de Deus, que se recebe pelo batismo, se alimenta pela palavra e pelos sacramentos, que tem na experiência viva da comunidade cristã, que é a Igreja, a sua expressão mais bela e que, em permanência, desafia o crente ao dom da própria vida, a exemplo de Jesus de quem é seguidor e discípulo.
Trata-se, por isso, de uma proposta pedagógica para abri portas a quem não crê e para ampliar horizontes de vida, de formação e de missão a quem já tem fé. E porque a fé a nada de quanto é humano pode ser insensível ou indiferente, compreende-se que «Cristãos com fé» aponte caminhos de exigência da verdade da profissão da fé da Igreja que nos alegramos de afirmar e de autenticidade na coerência da vida daqueles que testemunham a fé.
Mais do que argumentos de fé hoje o mundo procura testemunhos de fé. Na grandeza dos factos vividos e na verdade dos testemunhos conhecidos radicam hoje as novas escolas da fé onde diariamente se aprende e apreende a fé através da beleza e da verdade daqueles que a tornam viva e eficaz através das suas obras.
São as comunidades crentes e as pessoas em cujo rosto e coração se espelha a fé que são hoje as melhores portas da fé. Assim aconteceu com os discípulos de Jesus, no início dos tempos apostólicos. Assim se revelaram as primeiras comunidades cristãs, exemplares na autenticidade da fé, na beleza da vida fraterna e na assídua participação de todos os que acreditam em Jesus Cristo, vivo e ressuscitado. Assim se percebe hoje pela vida dos santos e sempre que de perto nos aproximamos dos que vivem de Deus e espalham à sua volta este doce fascínio da fé que dá sentido à vida e valor à missão.
«Cristãos com fé» não ilude nem recusa perguntas necessárias, não propõe respostas imediatas nem fáceis e a ninguém dispensa do esforço da caminhada e do trabalho da procura. «Cristãos com fé» reconduz-nos à Palavra de Deus, aponta-nos referências oportunas de ampla bibliografia, convida-nos a relermos a vida e a entendermos sinais e símbolos mesmo que nos pareçam mudos e sobretudo aponta-nos como meta o «Coração de Jesus». Compreendemos que o Coração de Jesus, de acordo com o Evangelho e com o carisma da espiritualidade dehoniana muito própria dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, a cuja Congregação o autor pertence, seja o lugar obrigatório aonde conduz o crescimento na fé e na vida daqueles que sabem que só ali repousa e descansa quem deseja viver a fé em todas as suas dimensões e exigências.
Termina este livro com uma bela oração sobre a fé: a oração de Paulo VI, o mesmo Papa que nos ensinou um novo Credo, igualmente assente no Símbolo dos Apóstolos e na Profissão de Niceia e Constantinopla, agora feita Credo do Povo de Deus, um povo peregrino no tempo e testemunha da fé em todos os tempos.
Com os apóstolos e com os discípulos de todos os tempos continuamos a viver e a professar a mesma fé e com João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI continuamos a sentir que o mundo precisa mais de testemunhas do que de mestres.
Queremos ser «Cristãos com fé» conscientes e decididos a proclamar e a viver o evangelho das bem-aventuranças para que a Igreja seja «porta da fé e da bem-aventurança» para todos quantos procuram Deus e para todos quantos tendo-o encontrado mais necessidade sentem de O procurar.
Aveiro, 15 de agosto de 2012, Solenidade da Assunção da Virgem Maria

 
António Francisco dos Santos

Bispo de Aveiro, Presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e da Doutrina da Fé

 

 

Um comentário:

  1. Parabéns por mais uma publicação. Muito oportuna nas vésperas do ano da Fé.
    Já temos saudades suas. até breve!
    LMachado

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