DE TIMOR
Este é um tempo favorável à nossa avaliação
existencial. Sei que a vida é uma permanente corrida e luta contra mil e um
fatores para viver e sobreviver com tantos limites que aparentemente nos
condicionam, que nos fazem sentir uma certa depressão comum como se
estivéssemos esquecidos, nesta condição humana, sem desejarmos grandes
ambições, não que as não queiramos mas porque o tempo não está propício para
esses desejos.Mas reafirmo que este é um tempo de reavaliação ao que
somos e vivemos, não ao que temos e fazemos. O mês de novembro transporta- nos
para a Vida depois da vida, para quem crê é claro, recordamos os que amámos,
prestamos-lhe homenagem e pensamos quase de forma inevitável que a qualquer
momento seremos nós a partir.
No dia de Todos os Santos na RTP Internacional alguém explicava com entusiasmo quem eram os Santos: todos aqueles que viveram bem e que conseguiram deixar com o seu exemplo uma memória eterna ficando no coração de todos nós. Afinal cada um de nós tem os seus santos, concluiu que o melhor era mesmo tratarmos de ser alguém que fica no coração de muitos e ser santo!
É belo pensar nesta possibilidade eterna, marcar a vida dos outros e permanecer no seu coração.
No dia de Todos os Santos na RTP Internacional alguém explicava com entusiasmo quem eram os Santos: todos aqueles que viveram bem e que conseguiram deixar com o seu exemplo uma memória eterna ficando no coração de todos nós. Afinal cada um de nós tem os seus santos, concluiu que o melhor era mesmo tratarmos de ser alguém que fica no coração de muitos e ser santo!
É belo pensar nesta possibilidade eterna, marcar a vida dos outros e permanecer no seu coração.
No dia 2 de Novembro, em solidariedade com o nosso
povo de Memo, prestámos homenagem aos que partiram e, com todos, entre cestos
de pétalas benzidas na eucaristia, caminhámos até ao cemitério. Um encanto, estranho
encanto para mim. A leveza desta visita aos ente queridos era como uma visita
aos próprios vivos na memória e que recebiam as pétalas de todas cores, de
todas os seus familiares de todas as idades, sem lágrimas, sem a dureza
habitual do ambiente que suscita a própria morte; uma partilha estendida aos
que vêm de fora e a nós que observámos atentamente esta experiência vivenciada
cada ano por este povo que acredita realmente na unidade e na comunhão dos
santos.
Tomei a liberdade de registar alguns desses quadros humanos que
naturalmente sorriam à minha passagem e que com um aceno aceitavam o meu
registo. Neste tempo que estamos a viver a Congregação viu partir duas pessoas,
em pouco espaço de tempo, que certamente deixarão saudades e tristeza na sua ausência:
a irmã Maria da Graça era uma pessoa simples e discreta, correspondia com
simpatia ao nosso cumprimento e servia nas coisas mais comuns como um anjo
louva a Deus e a nossa Madre Fernanda Augusta era absolutamente um tesouro
escondido naquela que foi a sua longa vida de 97anos, lúcida, culta, doce como
uma criança, orante, maternal, de um acolhimento divino sem fazer nunca alguma
exceção de ninguém. A sua humanidade confundia os que não a queriam cultivar
nem valorizar, assim como a sua incrível capacidade de estar atenta aos novos
tempos e partiu nessa atitude. Lamentei e chorei as perdas, presto-lhes
homenagem citando um ensinamento de um cardeal vietnamita, Francisco Xavier
Nguyen Van Thuan, muito conhecido e que viveu encarcerado ao longo de 13 anos
numa terrível prisão do Vietnam: “ No teu apostolado, usa o único método eficaz: o
contacto pessoal. Com ele, entra na vida dos outros, aprendendo a
compreendê-los e a amá-los. As relações pessoais são mais eficazes do que as
pregações e os livros. O contacto entre as pessoas e o intercâmbio, coração a
coração, são o segredo para que a tua obra perdure e seja bem sucedida”. Fiquei tocada por dentro com o ensinamento deste
asiático santo e que passou por uma provação difícil que a nossa mente nunca imaginará.
Acolher e amar, esta é a herança destas nossas irmãs que agora permanecem no
nosso coração e para quem nunca as conheceu; orgulho-me com amor de falar
delas, vidas doadas sem correr o mundo, sem obras notadas mas vidas realmente
banhadas de amor doado até ao fim.
Aqui, em Timor, no dia 12 de Novembro foi a celebração
dos 21 anos do massacre em Santa Cruz - Dili e homenagem às vitimas do mesmo
massacre. A maioria de nós, em Portugal, deve recordar-se bem dessa noticia em
1991, em que o jornalista Hernâni Carvalho, protegido, falava com comoção
controlada as mortes e o massacre dentro deste cemitério, trágico e
inacreditável, mas as imagens do jornalista inglês Max Stahl que arriscou a
vida, valeu o principio do caminho para a liberdade de Timor Leste. Pessoas
grandiosas que dão sem preço, que vivem pelo bem até dar a própria vida, Timor
é terra de mártires, vivos e falecidos, santos em comunhão connosco. Se muitos
pensam apenas no futuro e no desenvolvimento do país e a história é um passado
a esquecer, para não a reviver, creio que a memória e a homenagem dos que
lutaram e viveram a história não pode ser esquecida mas amada e venerada, fruto
do amor de Deus por este povo.
Não quero motivar-vos a uma reflexão que vos deprima,
apenas partilho pedaços de momentos que tenho também reflectido e, ao fazê-lo
convosco, seremos muitos, talvez, a sentir e a ver de formas diversas todas
estas coisas. Começaram as chuvas tropicais e as trovoadas intensas,
quase sempre à mesma hora, pelas 14.30-15.00 horas, dizem os entendidos são
chuvas cíclicas, duram umas 3 ou 4horas, inundam tudo e trazem os mosquitos que
renascem das águas paradas, vale-nos o repelente e a luta vai começar contra
esses malditos!
Para vós, o frio é a vossa tortura, mas quando chegar
a primavera será um florescer belo das flores e do verde das colheitas,
diferenças do mundo!
Um abraço amigo.
Cristina Macrino
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