sexta-feira, 18 de maio de 2012



ENVELHECIMENTO DINÂMICO

Ponto 1 – Ano Europeu

Quando abordamos a questão da pessoa humana, apelamos imediatamente para a sua dignidade, para os seus direitos e para os seus deveres, sintetizados no respeito, na responsabilidade e no cuidado.
A existência humana pode ser contemplada sob muitos pontos de vista. Um deles é a tensão entre a identidade da pessoa e as mudanças que se vão operando ao longo da vida. Por isso, e nesse sentido, celebra-se, em 2012, o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da solidariedade entre as Gerações. O objetivo é sensibilizar a população em geral para o contributo que as pessoas mais velhas podem dar à sociedade. É fundamental promover medidas para que essas pessoas se mantenham activas através de um emprego, outro contributo na sociedade e tenham tanto quanto possível uma vida independente e autónoma, de modo que não sejam totalmente dependentes de outros. Segundo uma indicação, só 71% da população europeia está consciente do envelhecimento da população europeia, mas apenas 42% estão preocupados com a situação[1].
Assim a família e a sociedade são os dois pilares que não podem faltar ao idoso. Mais. São os dois jardins, onde os idosos passeiam e colaboram para que as suas flores exibam a sua beleza para que outros possam desfrutar dela.

Ponto 2 – Quem é o ancião?

A primeira década do século XXI em Portugal é marcada por um crescimento baixo da população (referente à fecundidade e à natalidade) e um aumento de esperança de vida e de longevidade; redução da população com menos de 15 anos e aumento expressivo daquela com mais de 65 anos. A ONU estima que os 600 milhões de idosos serão 2.000 milhões em 2050. Haverá mais pessoas em 2050 com mais de 65 anos do que com menos de 15 anos. Em 2050, 22% da população terá mais de 60 anos de idade. Na Europa, nos 27 países membros, em 2009 dos 65 aos 79 anos eram 12,7% e em Portugal 13,2%. Com mais de 80 anos na Europa eram 4,3%, e em Portugal 2,5%. Em Portugal, segundo o INE (2011), as pessoas com mais de 65 anos são 19,1% e os jovens só com 15%. Há a tendência para aumentar a esperança média de vida que agora está nos 79,2 anos. As pessoas com mais de 80 anos podem aumentar de 4% em 2010 para 10% em 2050.
Afinal quem é o ancião? Para uns, a terceira idade é tempo de liberdade, orgulho e júbilo, para outros é angústia e solidão. Nalgumas sociedades, há a desvalorização do idoso. Onde se privilegia a juventude, a beleza, o consumo e a produtividade, o idoso não tem preço. O ancião é a pessoa da sabedoria, da experiência, do encontro e da maturidade. Há culturas como a africana, onde o ancião é a tradição, é a autoridade, é a cultura… é quem dá posse.
Alguns distinguem os idosos jovens (65 aos 74 anos) dos grandes idosos (75 a 90 anos).
A velhice é abertura a novos âmbitos, assim como a alcançar uma nova estabilidade. Só envelhece de uma forma correta quem aceita interiormente o seu envelhecimento.

Ponto 3 – Envelhecimento activo.

A expressão envelhecimento activo procura espaços de promoção de qualidade de vida à medida em que se envelhece. Podemos destacar duas dimensões: uma situa-se na participação dos trabalhadores mais velhos (dos 55 anos aos 64 anos) no mercado de trabalho, no prolongamento da sua vida laboral, nas condições de saúde e de trabalho; outra na participação social, na saúde e no bem-estar das pessoas idosas.
A primeira, de raiz laboral e económica, está mais enquadrada na União Europeia e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), assim como pelo Banco Mundial. A segunda pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesta segunda posição, enquadram-se as relações intergeracionais, assim como a importância dos idosos no apoio às gerações mais jovens, nomeadamente no contexto da rede familiar.
Há quem diga que a partilha está mais no tempo, no espaço e no dinheiro. A transferência de tempo diz respeito à prestação de apoio no cuidado de pessoas (adultas ou crianças), assim como o cuidar da habitação (limpeza e cozinha). Exibiu-se há tempos uma peça de teatro, onde mostrava os avós, a conviverem com os  seus filhos e os seus netos. Para tornar a vida mais rápida, mais fácil, os filhos colocaram os respectivos pais num lar da terceira idade. Mas os netos não se cansaram de barafustar, enquanto não trouxeram de volta os avós para o seu meio, para a sua família. Reconquistaram o afecto dos seus avós, recuperaram os seus avós para a família. A transferência de espaço responde a coresidência, sobretudo no Sul da Europa. A transferência de dinheiro ou bens refere-se mais a heranças.
Por vezes, olha-se para os idosos mais como consumidores de recursos familiares, sem se ter em conta do que ele é capaz para as gerações mais novas, ou seja um contributo de sabedoria e de afecto[2].

Ponto 4 - Etapas da vida.

O ítalo alemão Romano Guardini aborda a terceira ou quarta idade como uma etapa da vida. Procura apresentar no seu livro as etapas da vida, ou seja, descobrir o sentido da vida nas etapas ascendentes e nas etapas descendentes. Para ele, o importante era descobrir o bem, o dever, a consciência e o amor em cada etapa. Guardini olha para cada etapa com o seu significado particular e não se refere a outra etapa como dependência ou modelo. Refere Lopez Quintás que cada etapa apresenta uma significação peculiar, de modo que o seu valor não pode ser deduzido de outra etapa considerada modélica[3]. Guardini supera a tendência banal em considerar a energia juvenil, a capacidade de ação intensa, o poder de domínio e o desfrutar biologicamente, como únicos atributos da vida. Cada etapa tem um selo característico. Guardini procura mostrar a exigência do bem em cada etapa da vida. A verdade de cada pessoa consiste em buscar o bem e a verdade em cada circunstância.
Uma verdadeira conceção da vida não considera o rendimento, a eficácia e a intensidade da ação como módulo único de valor pessoal. A existência do ser humano pode e deve apresentar um sentido mais elevado mesmo quando há quebra do valor corporal.  É que ajudar o ancião não pode reduzir-se a prestar-lhe assistência para o seu bem-estar, mas ajudá-lo a descobrir o grande significado da vida, de modo a poder continuar a vivê-la com dignidade. O ser humano é ele mesmo – não sempre o mesmo – em todos os momentos da sua vida. Cada etapa tem valores próprios, tem uma figura axiológica. O seu valor não deve ser confrontado com outras etapas, mas a partir dela mesma.
Esta capacidade de interpretação apresenta um interesse excecional sobretudo nos momentos em que a vida própria se apresenta carente de sentido e nos leva a perguntar se vale a pena viver. Pode cair-se no absurdo e no cepticismo. A ancianeidade é uma verdadeira escola da vida[4].

Ponto 5 – O voluntariado dos idosos.

O voluntariado é dádiva e é vontade de partilhar, assim como ajuda a dignificar e a  humanizar a sociedade.
É que o exercício do voluntariado leva as pessoas a praticar valores como a solidariedade, a compaixão, a gratuitidade, a fraternidade e a competência.
O voluntariado luta pelo bem-estar do beneficiado, não só bem estar físico e económico, mas pelo bem estar pessoal, subjectivo, psicológico e espiritual; ou seja, vão ao encontro do estar bem ou do bem em si.
Nos USA, um quarto da população com mais de 65 anos faz voluntariado, numa média de 90 horas por ano, ou seja, duas horas por semana. A base teórica do voluntariado é a teoria da actividade. O voluntariado cria bons efeitos no bem estar das pessoas idosas, sobretudo para quem exerce voluntariado com mais de 100 horas por ano. Provoca aumento de bem estar e saúde. Como referimos no livro coordenado pela Professora Doutora Sónia Galinha, a promoção do voluntariado sénior é uma excelente oportunidade para as gerações experientes[5].
Ninguém é tão velho que não tenha nada para receber ou nada para dar. Dizia Eric Fromm que não é rico quem tem muito, mas quem dá muito. O idoso deu muito na vida e pela experiência de ter dado muito, pode dar ainda muito mais.


Adérito Barbosa scj


[1] Pinto, N G. O. (2012). Ano Europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações. Dirigir, 117, 36.
[2] Paul, C. e Ribeiro, O. (2012). (Coord.). Gerontologia. Lisboa: Lidel.
[3] Quintas, Lopes, Prefácio. In Guardini, R. (2000). Las etapas de la vida. Madrid: Biblioteca Palabra, 8.
[4] Guardini, R. (2000). Las etapas de la vida. Madrid: Biblioteca Palabra.
[5] Barbosa, A.G. (2011). O voluntariado organizado. In Galinha, S. (Coord.). Pedagogia e Psicologia Activa. Porto: Livpsic, 29-48.

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