sexta-feira, 25 de maio de 2012



QUEM É ROMANO GUARDINI?

“Guardini um dos mais significativos filósofos da religião, teólogos, pedagogos e críticos literários do século XX”
Quem me incutiu toda esta admiração pela figura e pela obra de Romano Guardini foi o filósofo espanhol Alfonso Quintás com quem tive o privilégio de dialogar algumas vezes.
Guardini era um sacerdote italiano, incardinado na Alemanha (Munique) que foi um exemplo pela sua austeridade de vida e pela preocupação que sempre teve com a formação humana e cristã da juventude.
Todo o seu pensamento se centra num opúsculo Só o que conhece Deus conhece o homem.
Diz ele (1997): na medida em que me aproximo de Deus e participo n’Ele, acerco-me à minha própria compreensão. A sede do sentido da minha vida não está em mim, mas acima de mim. Vivo do que está acima de mim. Na medida em que me fecho em mim, fecho-me no mundo, desvio-me da minha trajectória (p. 180).
Após alguma oscilação, Romano Guardini consagrou-se ao Senhor pelo sacerdócio. Intuiu que a sua missão consistia em configurar um novo método evangelizador. Começou a ensaiá-lo na sua actividade como director da associação universitária Juventus (Maguncia,1915). Em 1916, entra em contacto com a abadia beneditina de Maria Laach e em1918 escreve o Espírito da Liturgia que o consagra como um escritor de garra. No ano seguinte escreve a Via crucis e perde quase todo o seu prestígio, porque põe em pé de igualdade a oração litúrgica e as devoções populares.
Com isso, não desistiu de buscar o método formativo ideal e pensa tê-lo encontrado no estilo pedagógico de B. Strehler, director do movimento da Juventude, à volta do castelo de Rothenfels, junto ao rio Main.  Assistiu aí a um encontro de jovens, em 1920, e entusiasmou-se ao ver realizado um gérmen de tipo de vida que ele considerava ideal: alternando a conversação e o silêncio, buscava-se a verdade. Conviviam rapazes e raparigas, de maneira franca e limpa. Cultivava-se o canto, a dança, as caminhadas para os campos e os ofícios litúrgicos.
Guardini ficou polarizado à volta deste movimento juvenil. Trabalhou neste centro durante dois anos com a ideia de criar um homem novo.
As forças nacionais socialistas em 1939 confiscaram o castelo e acabaram os encontros. No entanto, Guardini nunca se afastou do seu caminho próprio de descobrir nos jovens estudantes como se interpreta a vida humana e os distintos fenómenos culturais da fé católica.
Sem o Movimento da Juventude, por terem confiscado o castelo e sem a universidade, Guardini desenvolveu um intenso trabalho apostólico nas diversas igrejas de Berlim.
Em 1943, devido à guerra que prejudicava gravemente a sua saúde, teve que sair de Berlim e refugiar-se na casa de um amigo.
Após a guerra reassumiu a universidade em Tubinga (1945-1948) e em Munique (1948-1962). Em 1948 recuperou o castelo mas já não tinha forças para retomar a direcção do Movimento da Juventude. Faleceu a 30 de Setembro de 1968.
 Desde muito jovem, Guardini intuiu que o seu trabalho educativo deve fazer-se em planos profundos da personalidade. Não basta encaminhar as crianças e os jovens para uma escala de valores; há que prepará-los para assumir o futuro com poder de discernimento e capacidade de decisão. Para isso, é importante descobrir as leis do desenvolvimento pessoal, centrado no fenómeno do encontro. Daí o interesse de Guardini em mostrar o carácter contrastado, não oposto de liberdade e obediência, autonomia e heteronomia, independência e solidariedade.
O começo da Primeira Guerra Mundial quebrou o ideal da Idade Moderna, condensado no mito do eterno progresso. Guardini advertiu que era urgente configurar um novo estilo de pensar e de sentir que desse lugar a um homem novo e a uma época nova, pós-moderna. O seu empenho nas Cartas de autoformação e nas Cartas do Lago Como consistia em desenhar a figura desse homem novo. Um novo tipo de homem deve assentar num homem de profunda espiritualidade, de um novo sentido da liberdade e da intimidade, uma nova conformação e uma nova configuração.
Para conseguir este tipo de homem equilibrado, é necessário vinculá-lo à realidade, evitando o egoísmo da própria subjectividade e perder-se em objectos dominantes.
O ideal da Idade Moderna tinha consistido em aumentar indefinidamente o saber científico e o poder técnico a fim de incrementar o domínio da realidade e o próprio bem-estar.
 A relação do domínio com a realidade exterior não criou verdadeira unidade; aumentou o poder e chegou ao conflito. Várias vezes, Guardini lamentou que o homem moderno não tinha conseguido uma elevação moral correlativa ao domínio físico que foi adquirindo sobre o mundo. Esta falta de Ética no Poder situa-nos na borda do abismo. A salvação deve vir de uma mudança de ideal: o ideal de possessão e o domínio há-de ceder o lugar ao ideal de respeito e de solidariedade.
Quando recebeu em Bruxelas em 1962 o prémio de melhor humanista europeu Guardini advertiu que se a Europa criou no passado uma cultura de poder e de domínio, agora deve configurar uma cultura de serviço. Expôs muitas vezes estas suas ideias aos jovens no castelo de Rothenfels.


Adérito Barbosa aaderitus@gmail.com




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