QUEM É ROMANO
GUARDINI?
“Guardini um dos mais
significativos filósofos da religião, teólogos, pedagogos e críticos literários
do século XX”
Quem me incutiu toda esta admiração pela figura e
pela obra de Romano Guardini foi o filósofo espanhol Alfonso Quintás com quem
tive o privilégio de dialogar algumas vezes.
Guardini era um sacerdote italiano, incardinado na
Alemanha (Munique) que foi um exemplo pela sua austeridade de vida e pela
preocupação que sempre teve com a formação humana e cristã da juventude.
Todo o seu pensamento se centra num opúsculo Só o que conhece Deus conhece o homem.
Diz ele (1997): na medida em que me aproximo de Deus
e participo n’Ele, acerco-me à minha própria compreensão. A sede do sentido da
minha vida não está em mim, mas acima de mim. Vivo do que está acima de mim. Na
medida em que me fecho em mim, fecho-me no mundo, desvio-me da minha trajectória
(p. 180).
Após alguma oscilação, Romano Guardini consagrou-se
ao Senhor pelo sacerdócio. Intuiu que a sua missão consistia em configurar um
novo método evangelizador. Começou a ensaiá-lo na sua actividade como director
da associação universitária Juventus
(Maguncia,1915). Em 1916, entra em contacto com a abadia beneditina de Maria
Laach e em1918 escreve o Espírito da Liturgia que o consagra como um escritor
de garra. No ano seguinte escreve a Via
crucis e perde quase todo o seu prestígio, porque põe em pé de igualdade a
oração litúrgica e as devoções populares.
Com isso, não desistiu de buscar o método formativo
ideal e pensa tê-lo encontrado no estilo pedagógico de B. Strehler, director do
movimento da Juventude, à volta do castelo de Rothenfels, junto ao rio Main. Assistiu aí a um encontro de jovens, em 1920,
e entusiasmou-se ao ver realizado um gérmen de tipo de vida que ele considerava
ideal: alternando a conversação e o silêncio, buscava-se a verdade. Conviviam
rapazes e raparigas, de maneira franca e limpa. Cultivava-se o canto, a dança,
as caminhadas para os campos e os ofícios litúrgicos.
Guardini ficou polarizado à volta deste movimento
juvenil. Trabalhou neste centro durante dois anos com a ideia de criar um homem
novo.
As forças nacionais socialistas em 1939 confiscaram
o castelo e acabaram os encontros. No entanto, Guardini nunca se afastou do seu
caminho próprio de descobrir nos jovens estudantes como se interpreta a vida
humana e os distintos fenómenos culturais da fé católica.
Sem o Movimento da Juventude, por terem confiscado
o castelo e sem a universidade, Guardini desenvolveu um intenso trabalho
apostólico nas diversas igrejas de Berlim.
Em 1943, devido à guerra que prejudicava gravemente
a sua saúde, teve que sair de Berlim e refugiar-se na casa de um amigo.
Após a guerra reassumiu a universidade em Tubinga
(1945-1948) e em Munique (1948-1962). Em 1948 recuperou o castelo mas já não
tinha forças para retomar a direcção do Movimento da Juventude. Faleceu a 30 de
Setembro de 1968.
O começo da Primeira Guerra Mundial quebrou o ideal
da Idade Moderna, condensado no mito do eterno progresso. Guardini advertiu que
era urgente configurar um novo estilo de pensar e de sentir que desse lugar a
um homem novo e a uma época nova, pós-moderna. O seu empenho nas Cartas de autoformação e nas Cartas do Lago Como consistia em desenhar a figura desse homem novo. Um novo tipo
de homem deve assentar num homem de profunda espiritualidade, de um novo
sentido da liberdade e da intimidade, uma nova conformação e uma nova configuração.
Para conseguir este tipo de homem equilibrado, é
necessário vinculá-lo à realidade, evitando o egoísmo da própria subjectividade
e perder-se em objectos dominantes.
O ideal da Idade Moderna tinha consistido em
aumentar indefinidamente o saber científico e o poder técnico a fim de
incrementar o domínio da realidade e o próprio bem-estar.
Quando recebeu em Bruxelas em 1962 o prémio de
melhor humanista europeu Guardini advertiu que se a Europa criou no passado uma
cultura de poder e de domínio, agora deve configurar uma cultura de serviço.
Expôs muitas vezes estas suas ideias aos jovens no castelo de Rothenfels.
Nenhum comentário:
Postar um comentário