sábado, 18 de fevereiro de 2012






Timor, 16 de Fevereiro de 2012-02-17

Desejo que todos estejam bem. Eu apesar de estar quase adaptada ao calor, ainda tenho a questão do fuso horário um pouco confuso, todas as noites deito-me demasiado cedo e a partir das 5.30h da manhã acabou o sono, tudo ao contrário do meu ritmo de Portugal, quando chego ao meio da tarde já começo a ficar um pouco prostrada, mas já estou a 90%, faltam uns 10% para tudo isso ser superado, se Deus quiser.
Vou então contar-vos como foi a nossa viagem pelas montanhas de Maliana, decidimos continuar a percorrer o território da diocese, para conhecermos um pouco do “nosso” campo e foi mesmo uma aventura. A irmã Olívia é uma destemida aventureira e no sábado de manhã, embrulhámos o nosso farnelinho para o piquenique e lá fomos todas entusiasmadas e animadas para conhecermos mais uns lugares e as pessoas.
Saímos da cidade de Maliana e começámos a subir a montanha, esta muito povoada com muitas casinhas cheia de crianças e os respectivos familiares sempre por perto, claro à nossa passagem lá vinha um sorridente aceno. Quanto mais subíamos mais observávamos um natural fenómeno, as nuvens abaixo do pico das montanhas, parecia que aproveitavam a passagem para fazer o seu necessário descanso, pensei que por aquele andamento ainda ia tocar em alguma e desvendar o mistério da textura das nuvens que do avião parece algodão, mas não, elas sabem que a natureza é para a natureza.
As pequenas aldeias por onde passámos eram revestidas duma flora florestal realmente soberba que o clic da minha “companheira Sony” não resistia, parávamos, falámos o possível com as pessoas, perguntávamos como se chamava a terra, sim porque aqui não há placas para indicar absolutamente nada, a sério é incrível como se vai para tanto lado e nada de indicações e também não há muito sinais de trânsito e o limite de velocidade é a própria estrada, ou melhor os caminhos, estradas são raras.
Então a irmã Olívia tinha ouvido dizer que existiam umas termas medicinais de agua quente por aqui perto, ou melhor nas montanhas de Maliana e toca de começar a perguntar aonde seria, o pior foi saber como perguntar, as pessoas pouco ou nada entendem o português e nós bem pior que elas, não entendemos nem falamos o tétum, logo o gesto é tudo, mas lá conseguimos depois de todas as tentativas na comunicação que nos fez rir imenso! Eu só pensava, valha-me Deus com tal língua, é que nem Inglês percebem, depois de toda esta manhã por aquelas aldeias parámos para fazermos o nosso piquenique, sim porque já eram horas e a fome já apertava um pouco. De  lá nos metemos por um caminho abaixo e pelo caminho encontrámos um homem a quem mais uma vez perguntámos e qual não é o nosso espanto prontificou-se a ir connosco até lá. Saltou para a traseira do jipe com o seu porco embrulhado numas folhas de palmeira que parecia uma malinha, um porquinho para criar, chegando perto da sua casa entregou o porco à sua mulher e mandou-nos continuar, bem eu nunca imaginei tal medo, toca a descer a montanha até ao fundo, era só calhaus e terra cheia de buracos, o jipe revirava-se por todo o lado, acho que disse meu Deus uns vinte vezes até lá abaixo e nem uma foto tirei ao percurso, como era meu costume. Chegadas lá abaixo passámos por umas ruínas de casas completamente destruídas via-se que pareciam edifícios tipo palacetes e no fim da estrada uma pequena passagem feita com bocados de madeira, ainda não tínhamos parado e disse à irmã Olívia: ai já cheia à borracha, e diz ela: borracha? Não é o cheiro das águas sulfurosas, e era mesmo! Tal foi a adrenalina descarregada que até já me parecia borracha queimada. Atravessámos a tal passagem feita com bocados de paus e a nossa boca deu um Ah! De espanto ao ver aquela maravilhada encontrada, imaginem que eram umas termas de água BEM quente, natural, em ruínas, tinha mais uns edifícios naquele espaço, e perguntei ao senhor Luís que nos acompanhou, o que era aquilo, disse ele: “dos colonos portugueses”, huau! Meu Deus como pode haver uma coisa destas aqui em ruínas, podendo ser uma fonte de rendimento para a região? E sentimos um misto de encantamento e desolação diante de tal recurso natural não aproveitado e, como este muitos outros temos encontrado, que nos deixam desoladas por não haver meios estruturais para explorar em favor do povo timorense.
E por agora já chega para poderem assimilar tanta coisa junta, até eu escrevo para não me esquecer. Um abraço amigo! Montanhas de Maliana, 16 de Fevereiro de 2012.
Ir. Cristina Macrino

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